
Vamos pôr de lado as devidas desculpas e passar ao que interessa: o filme!
O filme ensaio sobre a cegueira isoladamente do livro é um bom filme, sem ser extraordinário. Tem algumas boas representações, em que destaco, como é óbvio a de Julian Moore, de quem sou fã, cenários suficientemente arrasadores para dar alguma globalidade ao filme, (não sendo este factor determinante no filme em questão) e uma realização do já aclamado Fernando Meireles, do qual fiquei fã na "Cidade de Deus", mas que aqui, e embora alguns momentos o façam reconhecer, fica muito aquém das minhas expectativas.
Guardo o melhor para o fim, inevitavelmente, a história. Esta é a razão e provavelmente temo dizer que quase a única que pode fazer valer a pena ver o filme. O argumento é tão bom que paga o filme. Fiquei inebriada com a história, a movimentação das personagens, o desenvolvimento sempre surpreendente e a constante sensação que todos sabemos de tudo aquilo mas não vemos o está mesmo ali à nossa frente.
Uma metáfora perfeita da nossa sociedade, vista de forma muito original, angustiante, pesada e tão profunda que me levou a dizer: tem este senhor isto tudo na cabeça?! É negro! Como consegue viver? (se calhar porque às vezes inconscientemente, preferimos não pensar muito nisso).
Fiquei muito impressionada com este argumento e com vontade de ler este Ensaio sobre a cegueira de Saramago, porque tenho a certeza de que esse sim deve ser claramente melhor!
Pude ler um excerto do livro, que penso que diz tudo!
"Por que foi que
cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a
razão, Queres que te diga 0 que penso, Diz, Penso que não
cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos
que, vendo, não vêem."
Saramago